A RESISTÊNCIA DO AXÉ DE ÈGBÓNMI DILA DE OBALÚWÁIYÉ

Nascida no Rio de janeiro em 2 de março de 1908, na Rua do Riachuelo, n.210, Secundina Lopes da Anunciação era chamada pelo cognome familiar de “Dila”.


Segundo o seu relato ao Ogan do Àse Òpó Afònjá, José Beniste, naquela época só havia três Candomblés no Rio de Janeiro: o da finada Gayaku Rozena de Besen, no bairro da Saúde; o de João Alaba, também na Saúde; e o do Sr. Cipriano Abedé, no Centro. E foi através dos seus avós maternos, que tinham cargo no Terreiro do Podaba da Gayaku Rozena de Besen, que Dila conheceu o Bàbálórìsà Cipriano Abedé que em 1922 a iniciou para Obalúwáiyé e Òsun. Na época de sua iniciação, Dila estava com 14 anos de idade. O seu avô Miguel Afonsekoloanu era Pejigan de Sàngó, e a avó Dandan Nueji foi iniciada para Òsùmàrè. Ao completar o ciclo de suas obrigações, Dila passou a ser chamada e conhecida como Ègbónmi Dila de Obalúwáiyé. Com o falecimento do Pai Abedé em 1933, Ègbónmi Dila tirou a mão com Mãe Aninha “Oba Biyi” do Àse Òpó Àfònjá. Quando Mãe Aninha morreu, Ègbónmi Dila tirou a mão com Mejito Donontinha de Vodunjo, que era sucessora da Gayaku Rozena de Besen. E foi Mejito Donontinha que abriu o Ilé de Ègbónmi Dila, em São João de Meriti.


Segundo a Ekedi Rosangela Coutinho, conhecida como “Ekedi Mocinha de Sàngó” e que é “Aráejé” (parente consanguínea) de Ègbónmi Dila e filha do Ogan Tatá de Òsun, a casa era muito bem frequentada pelos Bàbálórìsà’s e ÌyálórÌsà’s da época. Dentre eles, ela cita: Mãe Menininha do Gantois, Ìyá Bida de Yemojá, Pai João da Goméia, Ègbónmi Theodora, Mãe Tomazia, Mãe Estela de Òsóòsí e o próprio Ogan Beniste. Ekedi Mocinha ainda ressalta os inúmeros omo Òrìsà’s que a tratavam com muita dedicação e respeito:   Ìyá Miana de Òsun (Hunbona da casa), Mãe Glorinha de Òsun, Jandary de Òsàgiyán, Jurema de Omolu e também o inesquecível Gumbono Djalma de lalu “Igbara lonan” que com a morte de Tata Fumutinho, tirou a mão com Mãe Dila. A Hunbona da casa Ìyá Miana de Òsun (Damiana Antônio da Silva), foi iniciada em 1944 para Òsun e Òsóòsí e teve em sua iniciação como Ìyá Kékeré a respeitável Mãe Senhora, Òsun Muiwà, do Ilé Àse Òpó Afònjá. Ìyá Miana era competente, atenciosa e considerada o braço direito de Ègbónmi Dila.


Mãe Dila faleceu em 13 de Janeiro de 1990. Com a sua morte, o Àse ficou de luto por dois anos e em 1992, por indicação do jogo de búzios de Mãe Regina de Bamgbose, Ìyá Miana de Òsun toma posse como Ìyálórìsà do Ilé Àse Omin Ijéna. Ìyá Miana cumpriu com muito zelo, todos os ensinamentos deixados por Mãe Dila, seguindo do mesmo modo o calendário litúrgico da casa, que começa em janeiro com uma festa para o Senhor da casa: Obalúwáiyé. Em junho é a festa de Sàngó; em setembro, as Águas de Òsàlá e em dezembro, a Festa das Àyabás (Mães Rainhas: Òsún, Yánsàn, Obà e Iyewa).


Em abril de 2009 Ìyá Miana, por determinação dos Òrìsà’s, entregou para sua sobrinha neta no Òrìsà, Adriana Bárbara (Ìyá Danda de Òsun), os Igbá’s de Obalúwáiyé e Òsun que pertenceram a Ègbónmi Dila, os seus próprios de Òsun e Òsóòsí e o Igbá de Sàngó do avô de Mãe Dila. Ìyá Miana faleceu em 2011 e relembrando aquele mês de abril de 2009 quando da entrega dos Igbá”s, Ìyá Miana estava confiando a Ìyá Danda a manutenção do Àse. Àse este, que por norma, pertence a pequena Rafaela de apenas 3 anos de idade. Rafaela é sobrinha neta de Ègbónmi Dila. Ela é de Obalúwáiyé, mas não é iniciada e, por ser muito pequenina, ainda não pode assumir esta responsabilidade. Então, Obalúwáiyé quer que Ìyá Danda de Òsun conduza o Àse e seja a “Guardiã da cadeira”, até o periodo conhecido apenas por ele e Olódùmarè.


Para os Òrìsa’s, a folha só cai na hora certa! E a hora chegou! Sábado, dia 25 de agosto, a partir das 22 horas, Ìyá Danda de Òsun assume a direção do Ilé Àse Omin Ìjéna. Ìyá Danda diz estar emocionada e esta disposta a cumprir com amor, sabedoria e humildade o posto a ela confiada: “Guardiã da cadeira do Àse”.

Àse!