Como surgiu o Sincretismo Afro-Católico

 

Sabemos perfeitamente que São Sebastião não é Oxossi, mas por que surgiu essa correlação ou sincretismo religioso?

 

No período da colonização do Brasil eram trazidos africanos de várias etnias que tinham culturas e idiomas diferentes. Eles eram misturados de forma proposital para que não se entendessem e não provocassem levantes contra os dominantes da época.

 

Quando aqui chegavam, perdiam seu nome de origem, eram batizados e obrigados a professarem a religião católica.

 

A proximidade das culturas e as condições em que se encontravam lhes facilitou o entendimento coletivo. Para não perderem a religiosidade de origem e para não sofrerem agressões dos seus senhores, eles aparentavam rezar para um santo católico, quando na verdade reverenciavam suas divindades.  Eles escondiam o òkúta Òrìsà (pedra do Orixá) atrás de um santo, por exemplo, atrás de Santa Bárbara, protetora contra as tempestades, estava a pedra de Yánsàn (divindade dos ventos e tempestades).  Daí surgiu o ‘sincretismo afro-católico’.

 

Em 1829 foram criadas várias confrarias religiosas comandadas pela Igreja Católica que diferenciavam as etnias africanas. Os negros bantus formavam a Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora das Portas do Carmo, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, do Pelourinho.  Os fons ou jejes pertenciam a Confraria Nosso Senhor Bom Jesus das Necessidades e Redenção dos Homens Pretos, da Capela do Corpo Santo, na Cidade Baixa. Já os yorubás ou nagôs dividiam-se nas seguintes Irmandades: Nosso Senhor dos Martírios (formada por homens) Nossa Senhora da Boa Morte (formada por mulheres).

 

Em 1830 surgiu o Terreiro do Engenho Velho que foi posteriormente registrado na Secretaria de Segurança do Estado da Bahia como Sociedade São Jorge do Engenho Velho – Ilê Axé Iyá Nassô Oká.  

Outros terreiros tradicionais também foram registrados com referências católicas:

Sociedade São Jorge do Gantois = Ilê Iyá Omin Axé Iyá Massê.

Centro Cruz Santa do Axé Opó Afonjá = Ilê Axé Opó Afonjá.

Sociedade Beneficente Santa Bárbara do Bate Folha = Terreiro Bate Folha.

Sociedade Cultural Religiosa e Beneficente São Salvador = Ilê Axé Oxumaré ou Casa de Oxumarê.

 

Segundo o Babalorixá Aristides Mascarenhas, Pai Ari D’Ajagunã, presidente da Federação Nacional de Culto Afro Brasileiro (Fenacab) os antigos terreiros de Candomblé eram registrados com nomes de santos católicos para evitar a perseguição religiosa da época.  Segundo Pai Ari, “o sincretismo protegeu os antigos, mas agora somos assegurados por lei como religião”. “O sincretismo ainda é forte quando se comemora o Senhor do Bonfim e a Festa de Yemanjá, mas é válido como festa popular”, avalia Pai Ari.

 

Já Pai Gustavo de Oxossi da Tenda Espírita Pai Cipriano, de Guaratiba/RJ, não vê nenhum problema em festejar os Orixás nas datas dos santos católicos. “Comemoro Caboclo e Oxossi no dia de São Sebastião, Ogum no dia de São Jorge, Ibeji no dia de São Cosme e São Damião e Yansã no dia de Santa Bárbara. É uma forma de celebrar a sabedoria dos ancestrais para preservar nossas tradições”.

 

Ohùn tání ará jé ohùn Olórun! (A voz do povo é a voz de Deus!).

Axé!